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Joy e a questão da mulher inventora

Estreou na última semana de janeiro o longa metragem Joy: o nome do sucesso, que se trata de uma cinebiografia de Joy Maynard, inventora norte-americana e que também se tornou uma das principais estrelas de seu canal de televendas.

Joy é interpretada pela atriz Jennifer Lawrence (Jogos Vorazes) e tem a direção de David O. Russel, que também é o realizador de outro filme de sucesso O lado bom da vida, que rendeu a Lawrence o Oscar de melhor de atriz. O. Russel possui uma estética própria de fazer cinema e já é um dos meus favoritos. Mas vamos por partes.

Assim que chegou às telas brasileiras, Joy recebeu uma chuva de críticas negativas, que se focavam no seguinte: a maneira como o diretor utiliza as telenovelas das décadas de 1960 e 1970 como pano de fundo para construir a narrativa de Joy que, desta maneira acabou por reforçar que o lugar da mulher é em casa vendo novela e na cozinha. Pouco se falou (na maioria das críticas) da personagem principal e da atuação de Jennifer Lawrence.

Daí que até comentei com um amigo: "nossa, todo mundo falando mal desse filme, deve ser bom". E sim, o filme é excelente. Primeiro por sua estética e trabalho de câmera. Depois vem o elenco: Robert De Niro, como o pai de Joy, está impagável e assim como o restante que interpreta os parentes da protagonista, que vivem todos na mesma casa, inclusive o ex-marido. É por aí que se deve ler a utilização das telenovelas como ferramenta para conduzir a narrativa do longa: a vida de Joy é uma tragicomédia com parentes peculiares.

Outro fato é a atuação de Jennifer Lawrence: o que me chama atenção é que - e não apenas neste filme, mas, em momento algum lembramos da guerreira Katniss Everdeen, de Jogos Vorazes. Lawrence tem a alma das grandes atrizes em sua capacidade na construção de uma personagem. Não sei se ela ganhar a estatueta (eu torço por ela), mas isso não tem importância: Joy já pode ser considerada a sua melhor atuação, é impressionante.

A má vontade e a mulher inventora

Quando terminei de assistir ao filme, fiquei me perguntando: cacete, mas por que criticaram tanto esse filme? A resposta vem rápido: os textos no geral tentaram reduzir o longa metragem a história de uma mulher que inventou o esfregão flexível e ponto. Mas, Joy Maynard é muito mais que isso, ela é uma mulher inventora e, gostemos ou não, não estamos acostumados a contar ou escutar as histórias das mulheres inventoras, simbolicamente este é um "mundo dos homens" e este é outro grande ponto que faz de Joy: o nome do sucesso uma importante obra: não estamos acostumados a ver mulheres inventoras e nem políticas. Basta lembrar do discurso de posse da presidenta Dilma Rousseff: daqui para frente, as meninas vão se enxergar na presidenta.

E é neste ponto que o filme cumpre o seu papel: nos contar a história de uma mulher que hoje é responsável por mais de 100 patentes e de muitas outras criações de sucesso. Joy carrega o mesmo fardo do filme O jogo da imitação, que conta a história de Alan Turing, o criador do computador, mas que era homossexual em uma época em que isso era crime. E, ao seu lado, tinha a cientista Joan Clarke, sua parceira na criação naquilo que, futuramente, vai ser o computador. O filme peca nisso: esconde a história de Joan. Mas, em apenas uma história temos um homossexual e uma mulher ocupando um lugar que dever ser dos homens branco e heterossexuais.

Biografias como a de Joy, Alan Turing e Joan Clark são um insulto à sociedade heteronormativa e, justamente por isso, quando cineastas ou biógrafos se debruçam sobre tais vidas recebem as mesmas cargas que estas personagens carregaram em vida.

Mas, acredito que entramos em um tempo onde mais e mais histórias de mulheres inventoras serão contadas e as jovens já não mais serão ludibriadas pela ideologia normativa de que "apenas homens são criadores e pensadores".

Por exemplo, e para terminar, sabias que o Wi-Fi foi inventado por uma mulher? Seu nome é Hedy Lamarr.


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